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REALIZADORES DO ALBUM CHOROGRAPHICO

Maria Lúcia Prado Costa[1]
Fundamar - Fundação 18 de Março

Como já informado, o Album foi um dos produtos de um grande projeto cartográfico e estatístico não totalmente realizado, pelo Governo de Minas Gerais, em comemoração ao centenário da Independência do Brasil (1922).

Na exposição que fez ao secretário da Agricultura, Daniel de Carvalho, na Carta comemorativa do centenário em 1924, Teixeira de Freitas, presidente da Comissão do Centenário, identifica os técnicos que participaram do trabalho. Diz Teixeira de Freitas, no documento:

Esta exposição consta: 1º, do mappa da Provincia de M. Gerais um século atraz [...]; trabalho do desenhista Sr. Affonso Guayra Heberle, 2º, de uma colecção de 72 originais de mappas municipais, trabalho desse mesmo desenhista, do engenheiro geographo dr. Odilon Loureiro e do agrimensor dr. Theodoro Barbosa; 3º, de exemplares impressos de 60 delles, serviço este executado em Minas, na bem montada Lythographia Hartmann, de Juiz de Fora. (FREITAS, 1924, p. 19)

O ambicioso projeto de elaboração do Boletim Estatístico Chorographico de Minas Gerais, que se estendeu após esta data, não chegou a ser concluído. Alguns de seus produtos, entre eles o Album, envolveram em sua realização um grande esforço de mobilização de técnicos, tanto da Comissão Mineira do Centenário quanto dos 178 municípios mineiros contemplados nas obras. A elucidação do processo de mobilização e execução dos serviços ainda demanda pesquisas.

Teixeira de Freitas, em texto retrospectivo sobre tema, faz menção aos apoios recebidos tanto da Comissão Geológica e Geográfica do Estado, presidida pelo engenhor Álvaro da Silveira, quanto do Dr. Benedito José dos Santos, diretor de Indústria da Secretaria de Agricultura, autor do então último mapa geral do Estado, datado de 1911. (FREITAS, 1943)

Atendo-se, entretanto, apenas aos nomes citados nas pranchas do Album, a relação se reduz a três técnicos. A Tabela 2 traz o número de mapas assinados por cada um deles e o percentual correspondente.

Tabela 2 – Autoria dos Mapas do Album Chorographico [...], 1927

Desenhistas

Nº de Mapas

%

Affonso de Guayra Heberle

80

45

Odilon Loureiro

19

10,5

Joaquim Moreira Barbosa

55

31

Sem Autoria

24

13,5

TOTAL 178 100

Elaboração: Autora, 2012.
Fonte: MINAS GERAIS, Album Chorographico[...], 1927.

A tabela acima indica que 45% dos desenhos dos mapas foram de Affonso de Guayra Heberle e 30% deles de Joaquim Moreira Barbosa. O percentual de mapas sem autoria (13,5%) supera aquele dos assinados por Odilon Loureiro (10,5%). Não se pode elucidar, entretanto, qual o critério para distribuição do desenho dos mapas entre os técnicos. Pode-se afirmar, entretanto, que não se obedeceu à ordem alfabética dos topônimos nem à de distribuição regional dos municípios.

Alguns dados biográficos daqueles envolvidos tanto nos trabalhos da Comissão Comemorativa, quanto especificamente na execução do Album Chorographico são aqui apresentados na perspectiva de suscitar pesquisas mais abalizadas. 

1. DANIEL DE CARVALHO (1887-1936)

A Figura 1 traz imagem do Secretário de Agricultura de Minas Gerais, Daniel de Carvalho. A foto é do fundo do Centro de Pesquisa e Documentação (CPDOC) da Fundação Getúlio Vargas. 

 

Figura 1 – Foto de Daniel de Carvalho. 1923.
Fonte: FGV, 2012

Daniel de Carvalho nasceu em Itabira em 1887 e faleceu em 1966. Ainda enquanto frequentava a Faculdade de Direito, ingressou como amanuense na Secretaria de Agricultura, Viação e Obras Públicas do estado. Após bacharelar-se em 1909, permaneceu nesse órgão, chegando a ocupar o cargo de chefe de departamento graças a sucessivas promoções.

Filiado ao Partido Republicano Mineiro (PRM), Daniel de Carvalho elegeu-se deputado estadual em 1922. Ao mesmo tempo, participou da campanha pela eleição de Artur Bernardes à presidência da República. Com a ascensão de Raul Soares à presidência de Minas Gerais, porém, renunciou a seu mandato de deputado para assumir, ainda em 1922, a Secretaria de Agricultura, Viação e Obras Públicas do estado.

Durante sua gestão, realizou obras para a navegação no rio São Francisco, construiu em Viçosa (MG) a Escola Superior de Agricultura e participou do Congresso das Municipalidades Mineiras, realizado em 1923. Mesmo após a morte de Raul Soares (1924) e a ascensão de Fernando de Melo Viana à presidência do estado, manteve-se no cargo, até o final do quadriênio (1926). Refere-se a ele o verso de Mário de Andrade, em Noturno de Belo Horizonte, que fala de um jovem secretário de Agricultura. (CPDOC, 2011)

Daniel de Carvalho exerceu vários mandatos como deputado constituinte, deputado federal e foi ainda ministro da Agricultura (1946-1950).

 2. TEIXEIRA DE FREITAS (1890-1956)

 
Figura 2– Mário Augusto Teixeira de Freitas.
Fonte: IBGE, 2012

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estátistica (IBGE) traz, em sua seção Memória, além da fotografia apresentada na Figura 2, detalhada biografia de um dos seus fundadores, Teixeira de Freitas.

Mário Augusto Teixeira de Freitas nasceu em São Francisco do Conde, Bahia, em 31 de março de 1890. Ingressou, em 1908, na Diretoria Geral de Estatística do Ministério da Agricultura, Viação e Obras Públicas, onde promoveu numerosas pesquisas estatísticas, até então inéditas no país. Graduou-se com distinção no Curso de Direito, em 1911, pela Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais do Rio de Janeiro.Em 1920, foi nomeado Delegado Geral do Recenseamento em Minas Gerais e sua notável atuação nesse cargo levou o governo mineiro a convidá-lo para reformar a organização estatística estadual. Teve, então, a oportunidade de testar a aplicação, no campo da estatística, do sistema de cooperação interadministrativa entre as esferas de governo federal e estadual. Como diretor do Serviço de Estatística Geral de Minas Gerais lançou importantes trabalhos, entre eles o Anuário Estatístico do Estado, o Anuário Demográfico e o Atlas Corográfico Municipal de Minas Gerais. (IBGE, 2011)

Observa-se na citação, a omissão ao Album Chorographico, obra organizada e prefaciada por ele.

A convite do Governo Provisório, instaurado pela Revolução de 30, transferiu-se para o Rio de Janeiro para colaborar na organização do Ministério da Educação e Saúde Pública, no qual passou a dirigir a Diretoria de Informações, Estatística e Divulgação. Concebe, então, o plano de cooperação interadministrativa, de âmbito nacional, e que, estruturando e unificando as estatísticas do ensino em todo o país, seria o ponto de partida da evolução do sistema estatístico brasileiro.

A criação máxima do pensamento e ação de Teixeira de Freitas foi, sem dúvida, o IBGE. Baseado em seu plano de cooperação interadministrativa entre as três esferas governamentais - federal, estadual e municipal -, foi criado em 1934 e instalado em 1936 o Instituto Nacional de Estatística, que a partir de 1938 passa a denominar-se Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, pela associação nas mesmas bases de cooperação interadministrativa, do sistema de atividades geográficas. No período de 1936 a 1948 idealizou, planejou e consolidou a organização estatística brasileira como Secretário-Geral do Conselho Nacional de Estatística, órgão do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

Teixeira de Freitas faleceu no dia 22 de fevereiro de 1956, na cidade do Rio de Janeiro, deixando um legado de trabalho fecundo e criador. Parafraseando Carlos Drummond de Andrade, em crônica publicada no Correio da Manhã, de 25 de fevereiro de 1956, pode-se com ele concordar quando afirma que Teixeira de Freitas deixou uma lembrança rara de homem público pela obra construída mesmo não tendo, sequer, governado o menor pedaço do país. Porém, influiu profundamente na evolução e nos rumos que o seu ideário norteou. (IBGE, 2011)

 3.  AFFONSO DE GUAYRA HEBERLE – VERBETE DE AUTORIA DE MARIA DO CARMO ANDRADE GOMES

O topógrafo, cartógrafo e paisagista Affonso de Guayra Heberle teve papel de destaque na elaboração do Album Chorographico Municipal. São dele oitenta dos 178 mapas e todas as centenas de ilustrações em bico de pena que integram a obra. Seus finos desenhos imprimiram uma dimensão artística ao trabalho cartográfico, fundada numa inegável fusão entre arte e técnica na representação da paisagem.

Affonso de Guayra Heberle nasceu em Ulm, Alemanha, em 26 de junho de 1880, tendo emigrado para o Brasil em 1900. Segundo dados colhidos com a sua família, Heberle não seguiu a tradição familiar da carreira militar e, após diversas viagens pela Europa, decidiu-se pela emigração para o Brasil, por gostar muito da sonoridade da língua portuguesa. Morou alguns anos no sul do país onde naturalizou-se brasileiro e adotou o segundo nome – Guayra – nome indígena da Cachoeira de Sete Quedas, no Paraná. Nesse estado viveu, por alguns anos, como professor de alemão e intérprete, até dedicar-se à profissão de topógrafo.

Depois de algumas passagens pela Alemanha e pelo Rio de Janeiro, transferiu-se em 1919 para Barbacena e em 1922 fixou residência na jovem capital, Belo Horizonte, onde veio a se casar. Autodidata em muitos campos de conhecimento, falava muitas línguas e pesquisava a fundo assuntos como a maçonaria, tendo escrito um tratado sobre o tema em alemão gótico, e publicado uma obra sobre o antigo Egito, além de outras sobre assuntos metafísicos.

“Hábil desenhista”, tornou-se funcionário do Departamento Estadual de Estatística de Minas Gerais, ocupando diferentes postos, nos quais teve a oportunidade de realizar trabalhos de campo e gabinete, entre levantamentos topográficos, elaboração de mapas e desenhos paisagísticos. De sua obra no órgão mineiro foi-nos possível identificar os seguintes produtos: cópia da Carta Província de Minas Gerais, do Barão de Eschwege, em 1922; cópia da Carta de toda a porção da América Meridional, em 1928; Cartograma da Produção Extrativa, Agrícola e Pecuária do Estado de Minas Gerais, de 1929, Mapa do Município de Belo Horizonte, de 1936, em quatro folhas; ilustrações da paisagem natural de Belo Horizonte para o Anuário Estatístico de Belo Horizonte, de 1937; Mapa do Município de Belo Horizonte, de 1939, enriquecido pelas ilustrações do cartógrafo, que compôs a porção superior do mapa com finos desenhos a bico de pena; Mapa do Município de Belo Horizonte, do Departamento de Estatística do Estado, de 1940. Ainda no Departamento de Estatística, em 1939 ilustrou o livro As grutas de Minas Gerais.

Em 1941 publicou artigo sobre a Gruta de Maquiné na prestigiada Revista Brasileira de Geografia. Seu trabalho teve tão bom reconhecimento que Heberle foi convidado a trabalhar para o Conselho Nacional de Geografia, transferindo-se para o Rio de Janeiro.

Segundo dados da mesma Revista, Heberle faleceu em campanha de campo pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 1942. Sua última expedição percorria as zonas limítrofes dos estados da Bahia, Minas e Goiás, quando foi acometido por uma endemia local, vindo a falecer no Rio de Janeiro em 23 de julho de 1942. No mesmo ano, a Revista Brasileira de Geografia, em agradecimento aos serviços prestados por Guayra Heberle, fez-lhe uma homenagem póstuma, publicando os esboços paisagísticos de sua última viagem.

4. TEODORO BARBOSA

Pesquisas preliminares indicam que o agrimensor Teodoro Barbosa teria sido o responsável pela execução da planta da cidade de Pirapora/MG.

A sede do município [de Pirapora] é elevada à categoria de cidade e procura ser moderna, do ponto de vista sociocultural. Do ponto de vista urbanístico, desde 1910 já possuiu um traçado em xadrez inspirado em Belo Horizonte, elaborado pelo professor da Escola de Minas de Ouro Preto e executado pelo agrimensor José Teodoro Barbosa. Em 1915 as ruas tomam nomes de Estados brasileiros. (NEVES apud MOURA, 2012) (grifo nosso)

5. ODILON LOUREIRO

Desenhista de 10,5% dos mapas, o engenheiro topógrafo Odilon Loureiro teria se graduado na Escola de Minas, em Ouro Preto, em 1919, segundo Maria do Carmo Andrade Gomes. (2005) 

6. JOAQUIM MOREIRA BARBOSA

No Album 35% dos mapas são assinados por Joaquim Moreira Barbosa. Este cartógrafo figura também como autor do mapa de Belo Horizonte, de 1936. E ainda do Mapa de Minas Gerais datado entre 1944 e 1945, ambos do fundo do Arquivo Público Mineiro. Segundo Maria do Carmo Andrade Gomes, ele teria se formado na Escola de Agronomia e Veterinária.

7.  JOSÉ XIMENES CESAR JUNIOR

Na apresentação da Carta em Comemoração ao Centenário da Independência, em 1924, Teixeira de Freitas destaca a importância de José Ximenes Cesar para o trabalho até ali executado:

[...] o trabalho de execução technica e artística desta Carta pertence exclusivamente ao esforço de um único homem, e é este um modesto membro do magistério público do Estado, o professor José Ximenes Cesar, um verdadeiro technico e um grande artista, - tão modesto quanto competente, hábil e dedicado – a quem cabem todos os louvores. (FREITAS, 1924, p. 20)

Em outro documento, de 1943, Teixeira de Freitas, a ele se refere com as seguintes palavras:

Escolhi então para se incumbir dêsses serviços [cartográficos] o diretor do grupo escolar de Ouro Filho, o Professor José Ximenes César, tão modesto quanto competente, que o recenseamento me revelara como um habilíssimo desenhista, excelente cartógrafo e espírito muito metódico e empreendedor, dotado ainda de uma excepcional capacidade de trabalho. (FREITAS, 1943, p. 115)

Pesquisas preliminares indicam que o Professor José Ximenes César Júnior foi agraciado com nome de uma rua em Ouro Fino e outra em Guaxupé, ambas cidades do Sul de Minas.

Acervo da Secretaria do Interior do Estado guarda ofício de 1914 de José Ximenes César, como diretor do Grupo Escolar Delfim Moreira, criado pelo decreto n. 4.160 de 14 de março de 1914, em Guaxupé, em homenagem ao governador do estado. Na ocasião ele informava sobre a introdução de oficinas profissionalizantes para alunos do sexo masculino naquele estabelecimento. (MENEZES, 2011, p. 61).

Publicação do Diário Oficial da União de 30 de outubro de 1920 cita, na relação dos professores do Collegio Brasil de Ouro Fino, José Ximenes Cesar Junior como responsável pelas disciplinas de “Portuguez”; “Arithmetica”; “Geographia, Chorographia e Cosmographia”. (DIÁRIO OFICINAL DA UNIÃO, 2102)

Ele foi o autor do "Esboço da Divisão Municipal e Cartograma da Respectiva Densidade Demográfica de Minas Gerais" de 1920. Este mapa pertence ao fundo do Arquivo Público Mineiro, sob o código S.A. 386. Este belo mapa traz uma tabela com os 178 municípios e os seus respectivos 786 distritos. Segundo Maria do Carmo AndradeGomes, este teria sido "o primeiro mapa estatístico produzido no estado" (GOMES, 2015, p. 231)

Jose Ximenes Cesar teria sido ainda o topógrafo da planta de Paiolinho, quando este distrito passou a pertencer ao município de Poço Fundo, Sul de Minas, em 1924. (PORTAL PATRIMÕNIO CULTURAL, 2012).

8. LITOGRAPHIA HARTMANN

A impressão do Album Chorographico – como a do Atlas e do Annuario pela Litographia Hartmann de Juiz de Fora é dado que merece pesquisas mais sólidas. Ao tempo desse serviço, a Imprensa Oficial de Belo Horizonte, transferida de Ouro Preto em 1896, já dispunha do seu serviço de litografia, instalado em 1918 (SAMPAIO, apud LOBO, 1988, s/p.). Mensagem do Presidente Raul Soares ao Congresso Mineiro em 1923 informava que naquele ano havia sido instalada na Imprensa Oficial uma oficina litográfica para atender a execução de obras que o Estado antes encomendava a oficinas particulares. (MINAS GERAIS, 1923)

Segundo parecer do Arquivo Público Mineiro, para o atual projeto de reedição da obra, o processo de impressão dos mapas do Album em papel foi a litografia.

A litografia é um processo de gravura em plano executado sobre pedra calcária, chamada pedra litográfica, ou sobre placas de metal, e baseado no fenômeno de repulsão entre as substâncias graxas e a água,usadas na tiragem, o qual impede que a tinta de impressão adira às partes que absorvem a umidade, por não terem sido inicialmente cobertas pelo desenho, feito também a tinta oleosa. (DICIONÁRIO AURÉLIO SEC. XXI, 2011)

Instalada em Juiz de Fora, na década de 20, a Lithographia Hartmann já havia funcionado em São Paulo sob a razão social de Lithographia Hartmann-Reichenbach. Em São Paulo, tratava-se de uma sociedade entre os alemães, Julius Hartmann e Gustavo Reichmbach.

Em 1905 segundo anúncio publicado no Almanach O Malho, vê-se que a oficina que começou a funcionar com três operários contava nesse ano com 48 pessoas, dispondo de trinta máquinas, executando todo e qualquer trabalho litográfico, e com especialidade em cromos, mapas geográficos, rótulos de todas as qualidades, diplomas e folhinhas. São dessa gráfica os postais da conhecida série dedicada à Exposição Nacional de 1908, incluídos no capítulo dedicado ao Rio de Janeiro. (BERGER, 1996 apud GEROTTI; CORNEJO, 2004, p.243)

São desta época as seguintes produções: (i) o Diploma da Exposição Nacional de 1908 na comemoração do 1º Centenário da Abertura dos Portos do Brasil ao Comercio Internacional, do acervo da Biblioteca Nacional Digital; (ii) mapa do MINISTERIO DA VIAÇÃO E OBRAS PUBLICAS. Inspectoria Federal de Estradas, intitulado “Estado de Minas Geraes, S. Paulo de Rio de Janeiro, Secção Cartographica da Comp.” Lith Hartmann-Reichenbach, 1913, citada na Plataforma Hélio Gravatá do Arquivo Público Mineiro; (iii) mapa do indicado canal São Francisco-Jaguaribe, provavelmente de 1900, de autoria de Roberto Miller, editado pela SEÇÃO CARTOGRÁFICA DA COMP LTH HARTMAN REICHENBACH SÃO PAULO E RIO DE JANEIRO; e (iv) Fauna do Brasil, de Rodolpho IHERING, datado de 1917 e disponível na Biblioteca do Museu de História Natural da UFMG.

Há de se lembrar que Juiz de Fora foi o principal núcleo de colonização alemã em Minas Gerais, sediando inclusive a Hospedaria Horta Barbosa (1889), porta de entrada dos imigrantes europeus no estado. Na cidade já havia funcionado a Colônia Pedro II (1857-1885) criada para prover de imigrantes alemães o projeto de construção da estrada de rodagem União e Indústria (1861), ligando a cidade a Petrópolis/RJ.

Com a extinção da Colônia Pedro II, a 30 de junho de 1885, muitos dos ex-colonos vieram a se estabelecer no centro da cidade ou nos subúrbios de Juiz de Fora, dedicando-se principalmente à indústria artesanal. Aos poucos, foram surgindo as fábricas de cerveja, de pregos, de bordados suíços, de caramelos, fundição de ferro e bronze, oficinas mecânicas, malharias, curtumes, tipografias etc. que transformaram Juiz de Fora no único centro industrial de Minas durante a República Velha. (STERLING, apud MONTEIRO, 1982. p. 24).

É desta época e datada de Juiz de Fora, a coleção disponível na web: “Vistas do Estado de Minas Gerais – Lembrança da Exposição Internacional do Centenário da Independência”, Sem Autor. Álbum com 40 fotogravuras impressas a cores – Lithographia Hartmann, 1922/23. Na página eletrônica consultada são apresentadas ilustrações das cidades de Belo Horizonte; Juiz de Fora; Ouro Preto; Águas Virtuosas (hoje Lambari); Caxambu; Poços de Caldas; São João Nepomuceno; Varginha; Sabará e Cambuquira.

Mas, os pesquisadores Gerodetti e Cornejo sugerem que a coleção cobria também outras cidades brasileiras.

Hartmann mudou-se para a cidade de Juiz de Fora, e a partir de 1922, editou uma extensa série de cromolitografias, com a identificação H, letra inicial de seu sobrenome. Esta hipótese foi confirmada por um cartão-postal de propaganda de: Postais coloridos do Brasil, Rio, Porto Alegre, Belo Horizonte, Victória, Caxambu, Ouro Preto, São Paulo, Curitiba, Bahia, Petrópolis, Santos, etc. Coleção de 200 postais por 20$000, Litographia Hartmann, Juiz de Fora.” (GERODETTI; CORNEJO, 2011, p. 243)

Juiz de Fora, na década de 20, com uma população de 118.115 habitantes, contava com uma imprensa atuante e superior àquela de Belo Horizonte, então, com 55.563 habitantes, segundo dados demográficos do próprio Album.

Era tão grande a circulação de jornais e revistas na cidade no início do século XX que Juiz de Fora é vista por muitos como a capital intelectual de Minas. Paulino de Oliveira[2] lembra que, durante a década de 1920, ‘enquanto na Capital do Estado havia apenas três jornais diários, aqui [Juiz de Fora], se editavam sete, nenhum deles inferior aos de lá [Belo Horizonte]’ (FELZ, 2006, p. 4)

Jorge Felz ainda destaca a criação, em Juiz de Fora, da Associação da Imprensa de Minas Gerais, em 1921, em oposição à recém-criada Sociedade Mineira de Imprensa, com sede em Belo Horizonte.

Márcio Sampaio, em texto sobre a litografia comercial e artística em Minas Gerais, enumera as empresas do ramo existentes em Juiz de Fora, nos primeiros anos do século XX:

Além da Litografia Biancovilli, surgiram em Juiz de Fora, em um longo período, as seguintes oficinas: Lithografia e Estamparia mineira (1912); Lithografia e Estamparia União Industrial (1918); Lithografia Hartmann (1920); Industrias Reunidas Fagundes Netto (1929[...]. Lithografia Schimidt (1935). (SAMPAIO, apud LOBO,1988) (grifo nosso).

A proeminência cultural e o adiantado parque tipográfico de Juiz de Fora são algumas das hipóteses para a impressão dos trabalhos cartográficos do Centenário pela Lithographia  Hartmann.

Há de se estabelecerem ainda, em pesquisas futuras, as eventuais conexões entre Julius Hartmann e Afonso Heberle. Ambos eram alemães e técnicos envolvidos na produção do Album Chorographico Municipal.

REFERÊNCIAS CONSULTADAS

ABREU, S. Froes Alguns desenhos de Guaíra Heberle. Revista Brasileira de Geografia, v.4, n.4, p. 843-848, 1942.

AFONSO Guaíra Heberle. Revista  Brasileira de Geografia, v.4, n.3, p.669-671, 1942.

BARBOSA, Joaquim Moreira. Mapa do Estado de Minas Gerais. SEÇÃO CARTOGRÁFICA DA COM LITHOGRAPHICA YPIRANGA; SÃO PAULO. 1944-1945. Disponível em:http://www.siaapm.cultura.mg.gov.br/modules/grandes_formatos/brtacervo.php?cid=799Acesso em: 20 mai. 2011.

CENTRO DE PESQUISA E DOCUMENTAÇÃO DE HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA. Fundação Getúlio Vargas. Rio de Janeiro/RJ. Verbete: Daniel de Carvalho. Disponível: <http://www.fgv.br/CPDOC/BUSCA/Busca/BuscaConsultar.aspx> Acesso em: 20 jul. 2011.

CESAR FILHO, José Ximenes. Esboço da Divisão Municipal e Cartograma da Respectiva Densidade Demográfica de Minas Gerais. Mapa. 1:3000000. Col. Imprensa Oficial. Disponível em: http://www.siaapm.cultura.mg.gov.br/modules/grandes_formatos/brtacervo.php?cid=363. Acesso em: 20 ju. 2013.

DIARIO OFICIAL DA UNIÃO. Edição de 30 de outubro de 1920.  Disponível em:http://www.jusbrasil.com.br/diarios/2064569/dou-secao-1-30-10-1920-pg-58/pdfView. Acesso em 30 jan. 2012.

FELZ, Jorge Carlos.  A fotografia de imprensa e o desenvolvimento industrial em Juiz de Fora (1870 – 1940).Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – UnB – 6 a 9 de setembro de 2006. Disponível em: <http://ufjf.academia.edu/JorgeFelz/Papers/646650/A_fotografia_de_imprensa_eo_desenvolvimento_industrial_em_Juiz_de_Fora_1870_1940_> Acesso em: 20 jul. 2011.

FREITAS, M. A. Teixeira de.  Recenseamento do centenario: conferencia lida em 13 de maio de 1920 na sede do Club Academico de Bello Horizonte. Bello Horizonte: Imprensa Official do Estado de Minas, 1920. 29 p.

______. A carta de Minas commemorativa do centenario. Bello Horizonte: Imprensa Official, 1924.

GERODETTI, João Emilio; CORNEJO, CarlosLembranças do Brasil. As Capitais Brasileiras nos cartões postais e álbuns de lembranças.  Fotógrafos e Editores de Jornais. São Paulo: Solares Edições Culturais, 2004.  Disponível em: http://books.google.com.br/books?id=clPgyjOSXY8C&pg=PA243&lpg=PA243&dq=Hartmann+AND+postais&source=bl&ots=GwgKDzmcT8&sig=76XjluBHiZ4UYPbdtDpKzqkw52o&hl=pt-BR&ei=qyxZTaTxEYOClAfmq9GQBw&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=1&ved=0CBcQ6AEwAA#v=onepage&q=Hartmann%20AND%20postais&f=true. Acesso em: 20 mai. 2011.

GOMES, Maria do Carmo Andrade. Mapas e Mapeamentos: Dimensões Históricas. As políticas cartográficas de Minas Gerais (1850-1930) Tese apresentada ao Programa de Pós-graduação em História da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais, como requisito para a obtenção do título de Doutor em História. Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas UFMG 2005

HEBERLE, Afonso de Guaíra. A gruta de Maquiné e seus arredores. Revista Brasileira de Geografia, v.3, n.2, p.270-317, 1941.

HEBERLE, Afonso de Guaíra. A gruta de Maquiné e seus arredores. Revista Brasileira de Geografia, v.3, n.3, p.555-588, 1941.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. 2011. Memória. Disponível em: <http://memoria.ibge.gov.br/65anos/default.htm> Acesso em 23 mai. 2011.

LOBO, Lotus, 1943- colab. Museu Mineiro. Memória da litografia em Minas Gerais [curadora Lotus Lobo]. Publicação. Belo Horizonte: Museu Mineiro, [24] p. Notas: Catálogo da exposição realizada no Museu Mineiro de abril a julho de 1988.

MENEZES, Laura Campos.  O Ensino Técnico Primário Mineiro e a Escolarização dos Ofícios (1896-1920). Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado em Educação Tecnológica do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG), para obtenção do título de Mestre em Educação Tecnológica. Belo Horizonte, 2011. Disponível em:http://www2.et.cefetmg.br/galerias/arquivos_download/Dissertacoes/Laura_Menezes.pdfAcesso em: 20 dez. 2011.

MONTEIRO, Norma de Góis. Colonização e Imigração em Minas Gerais. Belo Horizonte – Rio de Janeiro: Editora Itatiaia Ltda, 1994. (Coleção Reconquista do Brasil. 2ª série).

MOURA, Antonio de Paiva. As Minas Gerais: Norte de Minas. Disponível em:http://www.asminasgerais.com.br/cidades_offline/norte.htm. Acesso em: 24 mai. 2011.

PORTAL DO PATRIMÔNIO CULTURAL. Bens Inventariados. Poço Fundo. Disponível em: <http://www.portaldopatrimoniocultural.com.br/site/bensinventariados/detalhe_eau.php?id=1091> Acesso em 31 jan. 2012.

STERLING, José Luiz. Trajetória da Indústria em Juiz de Fora. Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Juiz de Fora. Juiz de Fora, 2, 1966.



[1] A biografia de Affonso de Guayra Heberle é de autoria de Maria do Carmo Andrade Gomes.

[2] OLIVEIRA, Paulino. A imprensa em Juiz de Fora antes de 1930. Revista do IHG de JF, Juiz de Fora, ano 2, n.2, p.24,1966.

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